Comer peixe à moda de Bagdade




O cheiro que enche o ar à hora do almoço não deixa margem para dúvidas: há peixe ao lume. Sobre as labaredas das fogueiras improvisadas, espalhadas pelas ruas de Bagdade, o peixe vai dourando a passo lento – uma iguaria iraquiana, cujos segredos o SAPO foi descobrir.É uma das refeições mais populares entre os habitantes de Bagdade. É consumido diariamente, porque é uma refeição ligeira, e é procurado nos dias santos ou em ocasiões especiais, porque o seu tamanho permite que uma família inteira se banqueteie com o prato.Acompanhado por pão, arroz ou legumes, o peixe assado na brasa já se tornou, de facto, um dos ex-líbris da capital iraquiana - que o digam os numerosos vendedores e cozinheiros espalhados pelas ruas.Cobram um preço não muito afastado do valor-padrão de qualquer refeição aqui em Bagdade: por 10 dólares, no mínimo, qualquer um pode levar para casa um destes peixes, acompanhados por uma generosa porção de ovas assadas ao lume (sendo mais preciso: são embrulhadas em papel de alumínio e lançadas depois para o meio dos troncos que ardem na fogueira).
A 'terapia do lume'
Na pequena banca de rua, improvisada, que o SAPO visita no bairro de Karrada, o peixe-caribenho (como lhe chamam) nada ainda vivo em tanques improvisados. Nem sempre é assim: há clientes mais exigentes, que preferem trazer o seu próprio peixe, para grelhar e cozinhar à moda de Bagdad.Dos tanques, o peixe passa directamente para a banca, onde é aberto com uma faca. As entranhas e as ovas saem, o peixe é estendido, como se de um leque se tratasse, e disposto com cuidado na grelha. Seguem-se 45 ou 60 minutos de ‘terapia do lume’.Enquanto vai dourando ao sabor do fogo e do fumo, o peixe entalado entre grelhas vai sendo mudado de posição, para que todo o corpo fique igualmente cozido. Um dos segredos da iguaria está nas pequenas quantidades de sumo de 'maranja' (um fruto é, na verdade, um meio-termo entre uma laranja e um limão) que vão sendo espalhadas sobre as grelhas e que 'cortam' o sabor do fumo - um toque frutado nesta especialidade, que se tornou uma tradição em Bagdade.
O peixe e o Tigre
Noutros tempos, o peixe que agora vai sendo assado na fogueira era pescado directamente no rio Tigre - o mesmo rio que cruza Bagdade ao meio. Mas os anos de poluição e de guerra tornaram demasiado arriscado o consumo de peixe vindo das suas águas: afinal, foi neste mesmo rio que, durante os tempos da ditadura, foram lançados corpos de opositores assassinados pelo regime.A aquacultura tornou-se, por isso, a opção mais frequente: vindo de fora de Bagdade, de fábricas próprias com condições sanitárias adequadas, o animal pode agora ser consumido em segurança.
Bagdade agradece, já com água na boca.
+
Como cozinhar peixe à moda de Bagdade (fotos);
@
Marco Leitão Silva

Comentários

Anônimo disse…
Bom texto,gostoso e aromático.
Beijo.
isa.
Helena Teixeira disse…
Buaaa nao consegui visionar o vídeo.Aposto que foi o peixe que se pisgou para o mar :p

Jocas gordas
Lena

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